Não é preciso se endividar para presentar
Dezembro é mês de confraternização, de ir às compras, lotar shoppings e lojas atrás de presentes para quem amamos, para os professores dos filhos, porteiro, zelador, lixeiro e muitos outros que acompanharam nosso dia a dia durante o ano.
O clima de Natal e o apelo da data faz muita gente esquecer que o momento é de recessão na economia, alta taxa de desemprego e de incertezas para o próximo ano. E, com o 13º nas mãos, vão as compras como se não houvesse o amanhã.
O que leva as pessoas a gastarem mesmo sem poder ou correr o risco de se endividar para presentear alguém? A emoção tem grande papel nesse hábito e existe até uma área que estuda essa relação do consumo com o dinheiro: a economia comportamental.
Às vezes as pessoas, no intuito de agradecer alguém, acabam extrapolando o orçamento e comprometendo as suas finanças. É legal agradar quem a gente ama ou presentar alguém que te ajudou muito ao longo do ano. Afinal, quem não gosta de ser lembrado por alguém especial? Porém, uma compra por impulso pode gerar sérias consequências para o seu orçamento.
Apesar de o assunto ter vindo à tona nos últimos anos, a economia comportamental surgiu na década de 1950 com o objetivo de analisar a tomada de decisão do consumidor ao comprar. Especialistas descobriram que boa parte da nossa atitude de gastar vem de impulsos subjetivos que nem sempre conseguimos controlar.
Há, ainda, aquelas pessoas que, acreditando que a vida será melhor no futuro, que tudo vai se ajeitar no ano que vem, acabam entrando em longos financiamentos para comprar algo que deseja ou para alguém especial que mereça. Ao final desse momento de êxtase, elas descobrem que o aumento salarial não vem, o dinheiro extra que iria levantar não foi atingido e as parcelas começam a comprometer o seu rendimento mensal.
Tudo influenciado por momentos de euforia que fizeram a emoção falar mais do que a razão.
As redes sociais estão entre os gatilhos que estimulam o nosso consumo. Aquela roupa usada pela sua influencer preferida, aquela bebida degustada com todo o prazer por aquela atriz famosa ou aquele shake que faz emagrecer milagrosamente despertam o desejo de muita gente que quer se sentir antenada às novidades do mercado.
Outro ponto relevante quando se fala em emoção e consumo é o medo que muita gente tem se sentir excluído de um movimento ou de um grupo que certamente irá compra-los: "todo mundo da minha família vai comprar presente, se eu não comprar, o que acharão de mim?"
Questionamentos como esse acima são mais comuns do que imaginamos. O que muita gente não percebe é que o mesmo pode estar acontecendo com aquele parente que, por vergonha de "ficar para traz", vai se endividar também para presentear toda a família.
Será que não é hora de colocar as cartas na mesa, sentar, conversar e buscar alternativas mais sustentáveis para todos?
A crise econômica pode não ter afetado todos da mesma maneira, afinal, cada família tem sua cesta de consumo. No entanto, todos sabem sobre a situação que o país está atravessando.
Por que a família não conversa e joga aberto sobre a situação? Que tal propor um amigo-secreto com um valor baixo só para manter o clima de Natal?
Em vez de presentear professores, por que não escrever uma carta junto com seu filho agradecendo pelo ano? Se preferir, dê a cartinha acompanhada de um bombom. Certamente despertará mais emoção em quem vai receber. Afinal, o presente foi feito exclusivamente para ele.
A contenção de gastos pode ser expandida para a ceia de Natal e de Ano Novo. Se todos levarem um prato, a celebração não pesará para ninguém.
Zelador, porteiro e outros prestadores de serviço podem ficar mais felizes com uma caixinha coletiva feita pelos moradores de um prédio, no lugar de receberem presentes caros. Propor uma caixinha não pesará para ninguém e pode arrecadar um montante mais atrativo para eles.
Antes de sair gastando para presentear todos que você gosta e, certamente, merecem seu carinho e atenção, faça as contas, veja quanto tem disponível para comprar sem afetar o seu orçamento.
Afinal, as contas de início de ano estão chegando e nosso salário não aumentará em janeiro para paga-las.
Fim de ano é natural que as emoções venham à tona, mas também precisamos ser racionais para não nos prejudicarmos. Ao mantermos nossas contas em dia e o caixa no azul, daremos o melhor presente de Natal para a melhor pessoa de nossas vidas: nós mesmos.
Feliz Natal e um Ano Novo maravilhoso para todos vocês!
Camilla Magrini, economista, mestre em Economia pela PUC-SP e sócia fundadora da CR Moving.